Numa entrevista exclusiva, o Diretor de Inovação e Conhecimento da Morais Leitão, Carlos Coelho, explica o racional por trás do conceito "Firm for Tomorrow" e fala sobre as iniciativas concretas que o materializam no dia a dia da Sociedade.
Desde a aposta em inteligência artificial até ao desenvolvimento de plataformas digitais inovadoras, a Morais Leitão tem demonstrado como a combinação entre tecnologia, conhecimento jurídico e proximidade com os clientes está a redefinir a advocacia e a preparar o setor para os desafios do futuro.
Leia a entrevista completa abaixo.
Qual o racional por trás do posicionamento de mercado “Firm for Tomorrow”? E de que forma se materializa no dia a dia?
"Firm for Tomorrow" é uma expressão da nossa visão estratégica e uma afirmação de que queremos liderar. Na Morais Leitão, entendemos que o futuro do direito exige mais do que uma postura reativa: requer antecipação, inovação e a capacidade de prever e responder a dinâmicas em constante evolução.
Este conceito traduz o nosso compromisso em liderar o setor, assumindo um papel ativo na transformação do direito em Portugal e nos mercados onde estamos presentes, ao colocar o pensamento disruptivo, a tecnologia e a agilidade operacional no centro da nossa atuação.
Acreditamos que ser uma “Firm for Tomorrow” significa alinhar os nossos serviços às reais necessidades dos clientes, não só hoje, mas também em face dos desafios que ainda estão por surgir.
Um exemplo concreto deste mindset é o conjunto de reuniões one-to-one realizadas este ano com mais de 30 clientes. Nestes encontros, reunimos equipas multidisciplinares da Morais Leitão e dos nossos clientes, o que nos permitiu partilhar soluções inovadoras, compreender em profundidade as suas dificuldades internas e, juntos, chegar a abordagens mais eficazes e personalizadas. Este diálogo aberto e construtivo resultou não só na otimização dos serviços tradicionais, mas também na descoberta de novas áreas em que podemos acrescentar valor – até mesmo em domínios em que antes não eramos considerados.
Ao reunir os advogados que melhor conhecem os clientes e a sua indústria com as suas áreas relevantes de gestão, passando pela área legal, de compliance, de risco, de estratégia, de negócio até à tecnologia – criámos um ecossistema de colaboração que possibilita identificar antecipadamente desafios, explorar oportunidades e desenvolver soluções ajustadas ao contexto de cada organização.
Resumindo, o “Firm for Tomorrow” é o nosso compromisso com a evolução contínua, a criação de valor a longo prazo e a colaboração estreita com os clientes, moldando o futuro do setor jurídico e garantindo que estamos sempre preparados para responder, inovar e liderar, independentemente dos desafios que o amanhã nos traga.
De que forma é que a Sociedade incentiva a cultura de inovação entre os advogados e colaboradores e como é que isso se reflete na prática diária?
Para nós a inovação é mais do que um conceito – é uma parte fundamental da nossa cultura interna. Essa mentalidade inovadora é visível nos diversos projetos que surgem de forma orgânica dentro da sociedade. Adotamos um compromisso trienal de antecipar as tendências emergentes em cada área do direito, planeando iniciativas específicas para as desenvolver. Estas iniciativas são, frequentemente, lideradas por advogados mais jovens, que trazem novas perspetivas e mais dinamismo às nossas práticas.
Além disso, já lançámos vários concursos internos de inovação, abertos a todos os advogados e colaboradores. Estes concursos têm sido uma fonte rica de ideias, resultando em diversas implementações que melhoraram tanto a nossa organização, como os serviços que oferecemos aos nossos clientes.
Reconhecendo que há sempre espaço para melhorar, estamos a dedicar um piso inteiro do nosso escritório em Lisboa à inovação, cuja inauguração oficial está prevista para janeiro de 2025. Este piso já está a funcionar em modo de teste e está dividido em duas áreas principais:
- Espaço de trabalho colaborativo: aqui, as nossas equipas jurídicas mais dedicadas a start ups, tecnologia, digital e propriedade intelectual partilham o espaço e trabalham em estreita colaboração com a nossa equipa de inovação. Este espaço também está disponível para quem desejar adotar um modelo de trabalho mais descontraído e inovador, promovendo um ambiente colaborativo, flexível e criativo.
- Espaço de convívio: este espaço destina-se a reunir as pessoas dos 11 pisos do nosso escritório, proporcionando um local onde se possam encontrar e interagir. Temos também um lounge totalmente equipado com meios digitais de ponta e com mobiliário flexível, dedicado à discussão de ideias, à capacitação digital e à disrupção. Incentivamos todos a considerarem este espaço como seu, criando e desafiando a sociedade a implementar novas ideias e soluções.
Este investimento reflete o nosso compromisso contínuo com a inovação, criando um ambiente que não só respira inovação, mas também oferece as ferramentas e os espaços necessários para que todos os membros da sociedade possam contribuir ativamente para o nosso futuro inovador.
Que iniciativas têm sido desenvolvidas para melhorar o serviço ao cliente e aumentar a eficiência operacional da Sociedade?
Como dizia anteriormente, desafiámos os nossos clientes a partilharem os seus problemas connosco. Este processo permitiu-nos identificar padrões e compreender que existem lacunas no mercado no plano da gestão societária, Não há ERP ou CRM que tenha processos jurídicos desta natureza incorporados.
Tradicionalmente, as sociedades de advogados não operam com uma mentalidade orientada para produtos, mas quando recebemos diversos pedidos de natureza semelhante, isso é uma evidência clara de uma necessidade que ainda não foi endereçada. Foi isso que identificámos e decidimos avançar nós com a solução.
A gestão societária das empresas, que é frequentemente realizada de forma manual, com ferramentas como o excel, que a maior parte dos advogados evitam usar, e que ganha uma complexidade adicional em organizações com várias subsidiárias, onde a burocracia obriga à alocação de múltiplos recursos humanos apenas para lidar com o dia a dia da gestão societária.
Assim, criámos uma plataforma digital inovadora, com workflows jurídicos que suportam e automatizam a gestão societária. Com a nossa plataforma, os secretários da sociedade ganham eficiência e organização, eliminam tarefas repetitivas, reduzem a burocracia, têm uma visão holística do grupo societário e de cada empresa individualmente e acesso rápido a informações consolidadas e, acima de tudo, libertam-se para atividades mais estratégicas que agregam valor ao seu trabalho.
Este processo de desenho de uma solução para os nossos clientes envolveu ativamente os nossos advogados especializados nessas matérias, o que não só os levou a refletir profundamente sobre os próprios processos internos da Sociedade, como também resultou na adoção da mesma solução criada para os clientes na nossa prática interna, promovendo maior eficiência e alinhamento entre o que oferecemos e o que utilizamos no nosso dia a dia
Como é que a Sociedade está a utilizar a inteligência artificial para automatizar tarefas jurídicas e dar uma resposta mais rápida ao cliente?
Esta pergunta tem duas respostas, dada a recente evolução tecnológica da inteligência artificial generativa.
Em primeiro lugar, temos vindo a utilizar inteligência artificial para automatizar diversas tarefas jurídicas, com o objetivo de aumentar a eficiência e dar respostas mais rápidas e precisas aos clientes. Desde 2018, desenvolvemos e implementámos casos de uso que incluem:
- Revisão contratual: utilizamos IA para identificar cláusulas específicas, riscos e inconsistências em contratos de forma mais rápida e com um elevado grau de precisão.
- Deteção de anomalias e identificação de riscos: a IA ajuda-nos a detetar padrões incomuns ou questões de compliance em documentos extensos, otimizando processos que anteriormente exigiam muitas horas de análise manual.
- Extração de elementos jurídicos: automatizamos a extração de informações relevantes de grandes volumes de documentos, permitindo que os advogados foquem a sua atenção em análises mais complexas.
- Organização e análise documental: para responder rapidamente em situações de litígios ou investigações forenses, utilizamos ferramentas de IA para organizar e analisar grandes volumes de dados de forma eficiente.
- Criação de modelos de análise semântica: desenvolvemos modelos baseados em IA que conseguem entender contextos e facilitar a pesquisa de informação relevante dentro de determinado acervo de informação, tipicamente no âmbito de investigações internas.
Depois, em novembro de 2022, surgiu o ChatGPT, e toda a estratégia e tecnologia que estávamos a usar teve de ser repensada. Houve, de facto, um salto tecnológico significativo, mas o verdadeiro impacto foi muito além disso: o sucesso das aplicações está na simplicidade e na usabilidade da interface e, nesse ponto, tudo mudou. Pela primeira vez, os advogados podem interagir com as máquinas na sua própria linguagem, sem necessidade de comandos técnicos ou barreiras complexas.
Este avanço transformou a forma como olhamos para o acesso ao conhecimento. Antes, baseávamos tudo num modelo tipo Google (pesquisas lineares e direcionadas), agora, temos de reimaginar esse acesso num modelo tipo ChatGPT (conversacional, dinâmico e intuitivo). No entanto, esta mudança também trouxe desafios. A mesma criatividade que permite à IA responder de forma fluida parecendo um autêntico oráculo também pode gerar respostas falsas (que têm o simpático nome de “alucinações”). Num setor técnico e preciso como o jurídico, isso representa um desafio significativo e inegável e com potencial de destruição reputacional, bastando ver alguns casos recentes.
Aceitámos este desafio com determinação, acreditando que temos duas vantagens únicas relativamente à nossa concorrência direta: 1) seis anos de experiência com inteligência artificial, num processo de trial and error que nos dão um profundo conhecimento técnico, estratégico mas, sobretudo, com muitas lições aprendidas; e 2) décadas de conhecimento acumulado curado, que garantem que as respostas e insights que produzimos são tão sólidos quanto os nossos próprios padrões de qualidade.
Com a inteligência artificial generativa, o que realmente diferencia um escritório não é apenas o acesso à tecnologia e à informação — isso está ao alcance de todos — mas a capacidade de incorporar o conhecimento próprio e transformá-lo em valor real para os clientes. Sem isso, todos os escritórios acabarão por dizer mais ou menos a mesma coisa.
E é aí que está o nosso diferencial: enquanto outros ainda estão a adaptar-se à mudança, nós já estamos a construir o futuro. Porque no final, não se trata apenas de usar IA — trata-se de como a IA eleva os nossos profissionais para outra dimensão.