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21.12.2005

Morais Leitão absorve CPPX e ganha músculo no Porto

Autor: Pedro Santos Guerreiro 

INTEGRAÇÃO‘NOVA’ SOCIEDADE FACTURA 20 A25 MILHÕES DE EUROS

A MORAIS LEITÃO, GALVÃO TELES, Soares da Silva & Ass. (MLGTS) integrou a maior sociedade de advogados do Porto, a Osório de Castro, Verde Pinho, Vieira Peres, Lobo Xavier e Ass. (CPPX). O acordo não apanhou de surpresa o mercado (há seis meses que LEX anunciara as negociações) mas pode significar a abertura de uma nova fase na vida societária portuguesa: a da concentração entre sociedades de Lisboa e da Porto. Curiosamente, a firma que inicia o novo ciclo é a mesma que, há dois anos, fechou a primeira fusão do género entre duas firmas portuguesas, iniciando muitas outras negociações. Na prática, a CPPX será extinta e a sua estrutura de cerca de 30 advogados integrada na MLGTS, que mantém a denominação. A estrutura de cinco advogados que a MLGTS tinha no Porto junta-se à ex-CPPX; a equipa de oito advogados que a CPPX tinha em Lisboa muda para a sede da MLGTS. Além do nome, a CPPX deixa também alguns sócios pelo caminho: dos seus 11 sócios, apenas quatro – Carlos Osório de Castro, António Lobo Xavier, Eduardo Verde Pinho e Joaquim Vieira Peres – mantêm o estatuto. Os demais ex-sócios são integrados na estrutura com o estatuto de advogados seniores, associados principais ou consultores. No total, a nova firma tem 125 advogados (incluindo estagiários), dos quais 24 são sócios. A estrutura de governo da sociedade mantêm-se, continuando a ser co-presidida por António Pinto Leite (originário da MLGT) e João Soares da Silva (que vem da GTSS – ver detalhe das siglas na caixa). António Lobo Xavier integra o Conselho de Administração. Segundo valores apurados pelo Jornal de Negócios mas não confirmados, a nova sociedade facturará por ano entre 20 e 25 milhões de euros, dos quais um quinto é proveniente do Porto. À carteira de clientes habituais da MLGTS (que incluem empresas como a EDP e o BCP) junta-se o “portfolio” da CPPX (e que se destaca o grupo Sonae mas que inclui também empresas o Barclays ou o grupo de Ilídio Pinho). Contactados pelo Jornal de Negócios, António Pinto Leite e Joaquim Vieira Peres concordaram na “identificação cultural” e na “partilha de visão” entre as duas sociedades. O objectivo da operação é “a criação de um centro de excelência de exercício de advocacia com dimensão nacional, unindo as advocacias de Lisboa e Porto ao mais alto nível”, afirma Pinto Leite. Que destaca o “reforço da capacidade competitiva [da MLGTS] nas grandes transacções e nos grandes litígios”, nomeadamente nas áreas “de societário, mercados de capitais, fiscal e concorrência, fusões e aquisições”, enuncia o advogado, que acrescenta ainda as valências no contencioso, área em que a “nova” firma fica com perto de 30 profissionais. O futuro passa agora por “digerir” esta integração, que coloca questões diferentes da fusão anterior: a união entre a MLGT e a GTSS trouxe sobretudo complementaridade, enquanto esta integração acrescenta força de trabalho e massa cinzenta nas mesmas áreas de prática.

Dois anos a incorporar

Há um ano que a MLGTS e a CPPX estavam a conversar. As negociações foram notícias em primeira mão pelo Jornal de Negócios a 1 de Junho passado (ver em cima). Mas seriam precisos mais seis meses até que, na sexta-feira passada, as firmas anunciassem a fusão. A firma faz a sua segunda concentração em dois anos. No início de 2004, a Morais Leitão, J. Galvão Teles & Ass. fundiu-se com a Miguel Galvão Teles, João Soares da Silva & Ass., daí resultando uma sociedade com perto de 70 advogados. Entretanto, o crescimento orgânico aumentou o contingente para cerca de 90. E agora a integração da CPPX incorpora mais 30. Total: 125 advogados e estagiários.

TGV PARA O PORTO

Não se poupam elogios à integração da maior firma do Porto, a Osório de Castro, Verde Pinho, Vieira Peres, Lobo Xavier e Ass., na Morais Leitão, Galvão Teles, Soares Silva & Ass.. Mas lançam-se avisos. A consolidação no Porto vai acelerar.

OS CAMINHOS VÃO DAR AO PORTO. A integração da CPPX na MLGTS, fechada na sexta-feira passada, veio precipitar um movimento que já parecia iminente: a expansão de mais sociedades de advogados de Lisboa para a Invicta, intensificando a concorrência local e estimulando a concentração quer entre sociedades do Porto, quer entre estas e congéneres de Lisboa. O Porto “ameaça” assim a perder o estigma de ser um mercado muito mais fechado e conservador, equivalente ao que Lisboa era há 10 anos, quando não havia institucionalização das sociedades de advogados. A mudança começou antes desta fim-de-semana e verificou-se com a expansão de firmas como a GPCB – Gonçalves Pereira, Castelo Branco & Ass. (hoje com 22 advogados no Porto), a PLMJ (uma dezena) e a Uría Menéndez (outra dezena). Agora, é a MLGTS que consegue aquela que era considerada a melhor noiva (e que foi cortejada por outros pretendentes no passado). A Vieira de Almeida & Associados prepara-se para entrar e terá mesmo ensaiado uma fusão com a firma local Telles de Abreu & Associados. A PLMJ e a GPCB querem crescer. E ninguém descarta fusões: nem de Lisboa, nem de algumas firmas do Porto. “Vamos crescer bastante no Porto, aliás vamos crescer em toda a região Norte”, revela Manuel Castelo Branco, da GPCB. A firma vai continuar a recorrer a contratações laterais e “não pomos de lado uma fusão”. A Vieira de Almeida admite os mesmos cenários. Idem para a Abreu, Cardigos & Ass. E por definir está ainda o que a espanhola Garrigues vai fazer, sendo certo que promete operações de grande dimensão.

Mercado nacional. A expansão para o Porto traz para a ribalta um outro conceito: o de firma de dimensão nacional. “Não somos mais uma firma de Lisboa com um escritório no Porto, somos uma firma verdadeiramente nacional”, diz António Pinto Leite, sócio da MLGTS, que pede a “exclusividade” nesse estatuto. A GPCB – que tem 22 advogados no Porto e prepara a abertura no Algarve em 2006 – não comenta, comentando: “Não comento essa expressão. Se [na MLGTS] querem continuar a olhar para o umbigo, podem continuar a olhar”, ironiza Manuel Castelo Branco. Também a PLMJ, que prefere fazer um comentário “oficial” em nome da sociedade, responde: “Com a responsabilidade que temos de sermos a maior e a única firma de implantação nacional – no Porto, Lisboa e Algarve –, acreditamos que esta a consolidação e crescimento das sociedades de advogados é uma boa opção.”

Equipa forte. Mais unanimismo há quanto aos méritos da concentração entre a MLGTS e a CPPX. Francisco Sá Carneiro não poupa palavras: “É um movimento fantástico. Os dois fazem uma sociedade indiscutivelmente fortíssima. Se poucas dúvidas havia que a MLGTS era a sociedade portuguesa mais forte, agora essa dúvida acaba”. Mas há outra vantagem, diz: a integração “poderá dar a oportunidade ao mercado portuense de uma aproximação diferente dos clientes”.

A eterna cultura. Mas há também riscos nesta integração, avisam vários advogados. Sobretudo culturais e de assimetrias nas rentabilidades dos dois escritórios. Sete dos sócios da CPPX deixam de o ser, passando os demais a estar no “lockstep” (esquema de distribuição de lucros e benefícios) da MLGTS. Ora, os honorários no Porto são tipicamente mais baixos (fala-se em 90 euros por hora, menos 30% que em Lisboa; Manuel Castelo Branco contrapõe que pelo menos na GPCB a diferença não é grande) e pode haver desequilíbrios nas remunerações e nas exigências de horas facturadas. Quanto aos riscos culturais, a pressão está colocada nos líderes da MLGTS, que após duas cisões no passado (as saídas de Francisco Sá Carneiro e de Jorge Bleck, com as respectiva equipas, foram à data inéditas), “casam” agora no Porto apenas dois anos depois da fusão entre os escritórios de Morais Leitão, Soares da Silva e os primos Galvão Teles. Na MLGTS, admite-se que a acomodação da CPPX seja mais lenta do que foi a fusão anterior, que era mais evidente pela complementaridade de áreas de prática e pelo conhecimento e proximidade das firmas – que até eram vizinhas no mesmo prédio. Mas também se exibe o facto de a anterior fusão estar consolidada, dando-se como prova a recente “avalancha” de trabalho, que testou a capacidade de trabalho em equipa da firma. Como a rubrica “Inconfirmável” deste jornal tem noticiado, só nas últimas semanas passaram na MLGTS a privatização da EDP, a venda da posição da eléctrica na Galp, a nova refinaria de Sines e a tentativa de expansão do BCP na Roménia. PSG

”O moral na CPPX é francamente bom, o empenho não é só dos sócios, é vertical”

“Mais cedo ou mais tarde tínhamos de ter este desafio”, explica Vieira Peres, sócio da CPPX, firma que se vai integrar na MLGTS. “Pretendíamos claramente crescer” e “foi determinante fazermos pela primeira vez parte de um projecto inovador, com implantação de nível nacional e claramente português”. E “concluímos que esta era a sociedade de referência com a qual queríamos dar este passo.” A perda da identidade é um sacrifício? “A melancolia da perda da marca é completamente suplantada pelo desafio de estarmos num projecto inovador, vocacionado para uma prestação de serviços excelente aos nossos clientes. É sem olhar para trás que damos este passo.”