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05.02.2021

O direito criminal como óleo de figado de bacalhau

De há uns tempos a esta parte, o direito criminal serve entre nós para quase tudo.

Quando eu era miúdo, já lá vão para cima de 40 anos, o óleo de figado de bacalhau estava na moda e era bom para quase tudo. Sabia mal, mas pais e avós davam uma colher regularmente, porque se achava que fazia muito bem. Fortificava, numa, enchia o corpo de vitaminas, defendia contra doenças, et cetera. Era um mar de virtudes em cada colher. E, mesmo que assim não fosse, o que não mata sempre engorda. E a miudagem engolia, com má cara mas sentido de obrigação e de respeito perante quem sabia mais e lhe metia a colher na boca, com autoridade e amoroso cuidado. Creio que passou de moda o óleo extraído do fiel amigo, mas não faltam por aí panaceias universais (passe a redundância). Uma delas é o direito criminal, que de há uns tempos a esta parte serve entre nós para quasetudo e que é chamado, em colheradas amorosas, de cada vez que há qualquer coisa. Dói-lhe, grita, estrebucha, arrepia-se, tosse, incha, sangra, sufoca ou simplesmente está indisposto? Tome uma colherada de direito criminal e vai ver que faz bem. Há exemplos que nunca mais acabam.

Artigo de opinião de Rui Patrício, disponível na versão completa aqui.